Resenha do livro Tudo é Rio

Resumo do livro

Tudo é Rio, de Carla Madeira, emergiu como uma das obras mais impactantes de 2021, conquistando o coração de leitores em todo o Brasil. Publicado originalmente em 2014, o romance da escritora mineira foi relançado pela editora Record, gerando um burburinho que me deixou empolgada para embarcar nessa leitura. Antes de mergulhar na análise da obra, vamos à sinopse que apresenta o enredo de forma intrigante: “Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo delicada e poética, o romance narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso. A metáfora do rio se revela por meio da narrativa que flui – ora intensa, ora mais branda – de forma ininterrupta, mas também por meio do suor, da saliva, do sangue, das lágrimas, do sêmen, e Carla faz isso sem ser apelativa, sem sentimentalismo barato, com a habilidade que só os melhores escritores possuem.”

Resenha do livro Tudo é Rio

Falar sobre Tudo é Rio é um desafio, pois a obra é uma montanha-russa de emoções. A narrativa realmente é um exemplo de como a delicadeza pode se misturar à intensidade. Desde o início, fui sugada para dentro da história, desejando entender como a relação entre Dalva e Venâncio se desenvolveria, assim como o papel de Lucy nesse triângulo carregado de tensões. Os personagens são habilmente construídos, e a autora utiliza uma variedade de metáforas e elementos poéticos que criam uma conexão profunda com o leitor. A escrita de Madeira evoca traços de Nelson Rodrigues, mesclados a influências da literatura fantástica da América do Sul, trazendo uma autenticidade que reflete a complexidade da vida no Brasil. Assim como um rio que não para de fluir, nós, leitores, somos levados pela correnteza das emoções e dos conflitos.

Personagens

• Lucy: Se apresenta como uma mulher vibrante, que não esconde seu desejo fervilhante e abraça a prostituição com certo orgulho.
• Venâncio: Um homem preso em sua própria tristeza, que se recusa a aceitar os encantos de Lucy.
• Dalva: Apesar da dor e do ressentimento, escolhe permanecer ao lado de Venâncio, transformando cada dia em um lembrete doloroso de suas falhas.

Conclusão

“O sofrimento vem sozinho, tem pernas, mais cedo ou mais tarde ele aparece; o que a gente tem de buscar é a alegria, essa se esconde delicada na correria dos dias, não se oferece de pronto, quer ser encontrada, surpreendida, amada.” (p.105) Essa citação reflete muito da essência contida na obra. Os capítulos curtos da narrativa se assemelham a episódios de uma minissérie, onde o passado dos personagens se desenrola de maneira não-linear. A complexidade da psicologia deles é explorada, e as vozes femininas que emergem na trama trazem uma diversidade de experiências marcantes.

Entretanto, é importante mencionar que a leitura de Tudo é Rio não é para os fracos de coração. O livro pode levantar emoções intensas e trazer à tona gatilhos para algumas pessoas. Eu mesma me emocionei em diversos momentos, e passagens de dor e angústia se entrelaçam com outras de beleza crua. A trama nos questiona sobre o perdão e os limites da superação: até onde podemos perdoar o aparentemente imperdoável? A forma como a autora retrata essa realidade é poderosa, longe de uma expectativa de finais felizes ou personagens totalmente bondosos.

“Algumas vezes as mudanças acontecem na marra. Uma guilhotina afiada corta as nossas mãos, e todas as rédeas escapam.” (p.163) Essa passagem me fez refletir sobre a essência da vida e as ilusões que cultivamos. Carla Madeira entrega uma obra corajosa e impactante, uma narrativa para digerir lentamente. Pessoalmente, achei que a re-leitura poderia revelar novas nuances e perspectivas que ainda não captei. Assim, recomendo Tudo é Rio para os que buscam uma história densa, provocadora e repleta de reflexões sobre as complexidades da vida e das relações humanas.