Resenha do livro Todos de pé para Perry Cook

Resumo do livro

Quando fui surpreendida pela HarperCollins Brasil com a proposta de resenhar algumas de suas novas publicações, não pude conter a empolgação. A escolha recaiu sobre “Todos de pé para Perry Cook”, da talentosa Leslie Connor. O material de divulgação fazia uma intrigante comparação do livro com “O Menino do Pijama Listrado” — uma obra que muito admiro — e “Extraordinário”, que não me conquistou. Isso me deixou na expectativa, mas com um pé atrás, disposta a descobrir o que essa história tinha a oferecer.

Resenha do livro Todos de pé para Perry Cook

Imediatamente, meu receio era que a obra, apesar de ser ficcional, pudesse cair na armadilha do pedantismo. Contudo, para minha grata surpresa, essa preocupação se dissipou. A narrativa de Perry é repleta de questionamentos profundos que instigam reflexões sobre a vida e suas complexidades — um verdadeiro convite para pensar “e se?”. Um aspecto fascinante é que Leslie escreveu uma “carta ao leitor” onde afirma que, embora Perry seja um personagem fictício, suas experiências ressoam com a realidade de muitos. Acompanhar a jornada de Perry me levou a refletir sobre a sua relação com a mãe: “Ela vai mudar quando for solta? O que acontecerá quando estivermos fora?” (P. 40).

Personagens

A história gira em torno de Perry Cook, um garoto de 11 anos que cresce em um ambiente bastante peculiar: o Instituto Penal Misto Blue River. Esse local é o único lar que ele conhece até que, inesperadamente, é retirado do convívio e enviado para uma casa temporária, do mesmo promotor que está negando a liberdade condicional de sua mãe. Essa transição gera uma série de sentimentos intensos em Perry, que se vê em um ambiente totalmente diferente e, ao mesmo tempo, cheio de anseios por sua mãe. “Fico deitado na cama estranha, morrendo de vontade de falar com a mamãe… Sou um novo residente na casa VanLeer.” (P. 56).

O sofrimento de Perry ao ser separado da mãe e o entusiasmo que ele sente durante os sábados, quando recebe visitas, são retratos tocantes da sua realidade. A decisão de explorar a temática do sistema prisional através da perspectiva de uma criança é, sem dúvida, um ponto forte da autora. Os personagens são bem elaborados e contribuem significativamente para o desenvolvimento da narrativa, especialmente no que tange ao crescimento de Perry. Vale mencionar que a realidade não é black and white: existem figuras dentro da prisão que representam o que Jessica Cook, a mãe de Perry, apelida de “Frios” — pessoas que não são confiáveis e que se afastam dos outros. Contudo, a maioria dos personagens acaba por ser sensível e empática.

Conclusão

Perry, apesar de demonstrar uma maturidade incomum para sua idade, revela em vários momentos vulnerabilidades que o tornam ainda mais humano. Ao longo da história, ele se sente como um intruso, especialmente na casa temporária dos VanLeer. “Eu me seco com uma toalha VanLeer, que é tão grande quanto um cobertor. Quando a enrolo na cintura, ela se arrasta no chão… Nenhum dos meus pertences está aqui.” (P. 105). Essa sensação de estranheza contrasta com os momentos em que está em Blue River, onde sente que realmente pertence, afirmando: “meu quarto, meu relógio, minhas coisas”. É triste perceber como, mesmo em um lugar tão complicado, ele se sentia mais em casa.

Há um elemento de reviravolta na história de Jessica Cook que, embora possa parecer confuso, não diminui o valor da narrativa. É inegável que a autora consegue proporcionar uma leitura cativante que exalta a importância da empatia, uma qualidade que frequentemente parece escassa nos dias de hoje. Afinal, nunca sabemos a dor do outro, e Perry, com inocência e profundidade, nos mostra como é fundamental abraçar a resiliência em meio a adversidades. Recomendo “Todos de pé para Perry Cook” como uma leitura que provoca reflexões significativas e emociona.

Nota: Melissa Ladeia