Resenha do livro Sobre os Ossos dos Mortos

Resumo do livro

Quando me deparei com o livro “Sobre os Ossos dos Mortos”, da aclamada autora Olga Tokarczuk, vencedora do Nobel de Literatura, não tinha noção do quão rica e multifacetada seria a leitura. Desde as primeiras páginas, a obra me prendeu com sua mistura intrigante de reflexões filosóficas, citações poéticas de William Blake e uma crítica contundente às questões ambientais.

Resenha do livro Sobre os Ossos dos Mortos

A protagonista, Janina Dusheiko, é uma mulher idosa, professora aposentada, que vive sozinha em uma remota região da Polônia. Suas interações diárias com um clima severo, repleto de frio, neblina e intempéries, me fizeram sentir a solidão e a força da natureza ao seu redor. A sinopse já nos provoca: é um romance que começa com uma narrativa de crime convencional, mas rapidamente se transforma em um suspense existencial que toca temas mais profundos, como a loucura, a injustiça e os direitos dos animais.

Embora classificado como um thriller, eu enxergo “Sobre os Ossos dos Mortos” muito mais como um manifesto sobre os direitos dos animais e a conexão entre os seres humanos e a natureza. A história apresenta uma sequência de mortes misteriosas no vilarejo onde Janina reside, mas ninguém parece compreender o verdadeiro vínculo entre elas. A protagonista, que tem uma paixão por astrologia, acredita que os eventos estão interligados de maneira cósmica: os animais estariam se vingando da crueldade humana.

Um problema recorrente na narrativa é a prática da caça, comum na região, que deixa Janina indignada e decidida a fazer algo a respeito. Sua luta contra a caça esportiva é um tema central, levando-a a escrever cartas e denúncias à polícia, mas, lamentavelmente, ela é vista apenas como uma “velha maluca” por suas tentativas de chamar a atenção para a causa animal.

Como narradora, Janina traz uma voz intensa e pensativa, intercalando eventos sombrios com reflexões íntimas. Ela enfrenta problemas de saúde que a acompanham ao longo da obra, mas isso não a impede de lutar contra a injustiça. Uma passagem que especialmente me tocou foi quando ela reflete sobre a vida e o universo, destacando nossa vulnerabilidade e a necessidade de nos lembrarmos da nossa conexão com o cosmos. A profundidade das palavras de Tokarczuk ressoa como um eco que reverbera no leitor.

Personagens como Dísio, um ex-aluno poeta, e Esquisito, seu curioso vizinho, adicionam diversidade ao enredo, mas a verdadeira essência da obra parece estar nas questões globais que Janina propõe. Durante a leitura, percebi que a autora fez uma crítica social bastante incisiva, especialmente ao expor a hipocrisia dos caçadores e o apático desprezo das autoridades locais. Em diversos momentos, Tokarczuk expõe a banalidade da violência e a desumanização do ato de matar, o que provoca uma reflexão sobre a moralidade contemporânea.

A astrologia desempenha um papel significativo no desenvolvimento da narrativa, com Janina utilizando-a para entender o mundo ao seu redor. Suas previsões e observações frequentemente despertam desconfiança, evidenciando o abismo entre a lógica racional e a intuição mais espiritual.

Apesar de sua profundidade, confesso que houve momentos em que a leitura se tornou repetitiva. Com um ritmo que oscila entre divagações filosóficas e episódios concisos, senti que algumas partes poderiam ter sido mais concisas, o que, por vezes, me fez querer avançar mais rapidamente na leitura. Contudo, o livro é relativamente curto, com 256 páginas, o que torna esse aspecto um desafio gerenciável.

Ao final, fui surpreendida pela resolução da trama. Ao contrário de outras obras que deixam perguntas sem resposta, Tokarczuk nos oferece um clímax que satisfaz, unindo todos os mistérios em um desfecho que ecoa justiça.

“Sobre os Ossos dos Mortos” é uma obra poderosa, uma leitura que provoca reflexão e questiona normas sociais. Se você se interessa por histórias intrincadas que combinem mistério, filosofia e questões ambientais, esta obra de Olga Tokarczuk certamente irá cativá-lo.