Resenha do livro Os Vestígios do Dia

Resumo do livro

Atualizado em 4 de março de 2024. Eu já tinha escutado muitos elogios sobre o filme “Os Vestígios do Dia” (1993), estrelado por Anthony Hopkins e Emma Thompson. Contudo, confesso que nunca cheguei a assisti-lo. Recentemente, percebi que o longa estava disponível na Netflix, mas ao notar que era uma adaptação do livro homônimo de Kazuo Ishiguro, optei por ler a obra primeiro. Afinal, já tinha me encantado com “Não me Abandone Jamais”, também do autor, e sabendo que ele é laureado com o Nobel de Literatura, minha expectativa aumentou. Posso afirmar que foi uma grata surpresa; a leitura envolveu-me de uma forma que eu não esperava, mesmo com a narrativa não se concentrando em uma série de eventos grandiosos.

Resenha do livro Os Vestígios do Dia

O coração desta história é o narrador, o encantador Mr. Stevens, um mordomo inglês altamente comprometido que revisita suas memórias e vivências enquanto realiza uma breve viagem de carro durante suas férias. O cenário se passa na década de 1950, especificamente no verão de 1956, e oferece uma reflexão perspicaz sobre a vida, o amor não correspondido e as escolhas que, muitas vezes, definem nosso destino. Na trama, Stevens embarca em uma viagem para encontrar sua ex-colega e governanta, Miss Kenton, com quem teve uma relação especial durante seu tempo em Darlington Hall, uma propriedade imponente e respeitada na Inglaterra.

Ao longo da viagem, as reflexões de Stevens nos conduzem a uma profunda exploração de seu papel como mordomo e de sua dedicação ferrenha a seus deveres. Ele revisita momentos significativos de sua vida em Darlington Hall, refletindo sobre a importância da casa durante a Segunda Guerra Mundial e as decisões tomadas por seu antigo empregador, Lord Darlington, que já havia falecido. Esta narrativa se assemelha a um desabafo, como um diário de viagem mesclado com passagens íntimas e tocantes.

O livro trata de temas como arrependimento e a inexorável passagem do tempo. À medida que a jornada avança, Stevens se vê confrontado com suas próprias escolhas e os sentimentos que escondeu por décadas. Eu me senti bastante tocado pelas suas reflexões; um personagem tão dedicado, metódico e elegante, que viveu em função do trabalho. Stevens almeja a perfeição em sua função, realizando-a com primor, mas, à medida que se dedica a Darlington Hall, ele começa a perceber o que deixou para trás e a profunda influência que os eventos da casa tiveram em sua trajetória pessoal.

“Os Vestígios do Dia” é uma meditação melancólica sobre a vida e as oportunidades não aproveitadas, que investiga a intrincada natureza das relações humanas e as camadas complexas da identidade individual. No centro da narrativa, destaca-se o relacionamento não verbalizado e repleto de tensão entre Stevens e Miss Kenton, evidenciando a fragilidade das emoções humanas sufocadas pelas convenções sociais. Apesar de sentirem um amor mútuo, ambos se escondem atrás de seus “deveres”, distanciando-se um do outro.

O clímax do livro ocorre no reencontro entre Stevens e Miss Kenton, onde torcemos para que possam finalmente expressar o que nunca conseguiram no passado. A cena em que relembram os momentos bons e conversam é um dos pontos mais altos da narrativa, repleto de emoções à flor da pele.

Ao concluir a leitura, percebi que “Os Vestígios do Dia” é uma obra repleta de detalhes e que evoca uma variedade de emoções. Acompanhar a história sob a perspectiva do mordomo é um prazer; nunca havia lido um livro cuja voz principal fosse de um personagem tão educado e, ao mesmo tempo, contido. Kazuo Ishiguro nos oferece uma narrativa excepcional, que capta com maestria a essência de um homem tentando reconciliar seu passado e entender o significado de sua vida dedicada ao serviço. Vale, sem dúvida, a pena!