O Clamor de Jeremias: O Profeta e o Sacerdote Em Busca de Compreensão

O Clamor de Jeremias: O Profeta e o Sacerdote Em Busca de Compreensão

Jeremias expõe que o sacerdote e o profeta estão perdidos (quem sabe não em termos físicos, mas certamente em suas mentes e corações), incapazes de entender o que um povo inteiro está atravessando. Essa reflexão é de Pier Davide Guenzi, teólogo italiano e presidente da Associação Teológica Italiana voltada ao Estudo da Moral. Ele é também professor de Teologia Moral e Ética Social na Faculdade Teológica da Itália Setentrional.

O Clamor de Jeremias: O Profeta e o Sacerdote Em Busca de Compreensão

O texto foi publicado na revista Il Regno.

Recorrendo à memória de tantas vezes que rezei, uma frase de Jeremias surgiu em meio à confusão que vivemos atualmente, que parece afetar a todos: “Até o profeta e o sacerdote perambulam pela terra sem saber o que se passa” (Jr 14,18). Em sua versão litúrgica, a frase diz que eles “percorrem o país, e não sabem o que fazer”. Contudo, adaptei-a, pois ela se tornou mais adequada ao que está sendo sentido: o sacerdote e o profeta errantes (não necessariamente em corpo, mas definitivamente em espírito) não conseguem conectar o significado de tudo que a coletividade está vivenciando.

A situação transcende a simples desorientação. É, na verdade, um aviso contra a presunção de um entendimento completo. Minha experiência, ao me colocar nas pele de ambos os papéis, resulta em um tipo semelhante de confusão.

Primeiramente, o sofrimento

O sacerdote está desorientado: o líder que frequentemente guia as orações da congregação (esforçando-se para fazer isso mesmo em tempos sombrios) se vê sem palavras e ações. E isso não se deve à impossibilidade de celebrar a liturgia, mas sim ao esforço mental que o leva a afastar as expressões vazias e reconfortantes do “funcionário”, que nem a ele mesmo convence.

O profeta também não compreende: aquele que, até há semanas, ocupava um espaço público de ensino, se sente acuado diante de sua audiência à distância. O individuo que, com a maior clareza possível, buscava discernir os diversos aspectos da realidade, agora é bombardeado por emoções que afetam sua própria capacidade de pensar e, possivelmente, até lhe proporcionam insights. O instrutor que anteriormente dissertava sobre justiça e bem comum, tratados como meras teorias em livros didáticos, percebe agora que tais conceitos não são meras hipóteses acadêmicas, mas sim dramas reais que demandam ação e, mais importante, um retorno à empatia e ao sofrimento compartilhado.

Em seguida, decidi ler o capítulo 14 de Jeremias na íntegra. Nele, ele retrata as reações do povo, sacerdotes e profetas diante de uma súbita emergência causada pela seca. Tentei me aprofundar na compreensão. Na situação descrita, Jeremias se vê em um pranto impotente, mas repleto de compaixão e piedade.

Diferente dos outros profetas, que asseguram falsamente o conforto ao povo, criando desculpas para esconder sua incapacidade de entender (cf. 14,13), Jeremias, em seu lamento, não justifica Deus perante um povo considerado pecador, nem tenta explicar a tragédia que enfrenta com argumentos que diferenciam justos de injustos.

De forma simples, em um ato de profunda importância, ele absorve a dor e o desespero do seu povo e apresenta esses sentimentos a Deus. Esse Deus, que havia moldado sua vida, forçando-o a seguir seu chamado, parece ser uma presença distante, quase indiferente, como um viajante que passa pela cidade sem se comprometer com as angústias do povo. Além disso, Jeremias instiga Deus a não sucumbir à tentação de se sentir um guerreiro derrotado antes mesmo da batalha (cf. 14,8).

Jeremias não busca se colocar em outra posição, além da condição de ser a tela diante do espetáculo trágico que assiste (cf. 14,1-6.17-18). Ele não o analisa, nem busca explicações. Por um momento, suspende a lógica de causas e efeitos, bem como a análise de fins e meios, pois isso poderia ser perigoso. O dedutivismo que clama por previsibilidade e o cálculo pragmático de perdas e lucros se tornam irrelevantes no momento da catástrofe. O silêncio acolhe a dor e a direciona ao Deus que o havia chamado a ser profeta em sua juventude. A consolação que surge não está isenta da compaixão que carrega a dor. É, de fato, uma destilação desse sofrimento.

Se você souber identificar…

A resposta divina para Jeremias, que também não tinha formulado a pergunta, é avassaladora: o que você está aprendendo com essa tragédia? É uma indagação frequentemente direcionada a especialistas, às vezes (embora não com frequência) a teólogos e líderes religiosos. Muitas vezes, as respostas dadas são prontas e apressadas.

A resposta se revela no contexto de sua lamentação, impregnada de compaixão e pensamento reflexivo.

O profeta ainda pode exercer seu papel, mesmo sem entender tudo completamente. Contudo, não poderá continuar sem aprender a diferenciar o que é essencial do que é superficial, o metal precioso que revela a mais bela humanidade do que as impurezas que a cobrem e, em muitos casos, a escondem. Somente assim ele poderá continuar a ser a voz de Deus: “Se souberes distinguir o que é valioso do que não tem valor, serás a minha voz” (Jr 15,19).

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Minerva Sofia

"Oi, sou a Minerva! , uma leitora ávida e escritora dedicada. Com 25 anos, meu amor por livros me inspirou a criar este blog, onde compartilho resumos e resenhas sobre minhas leituras favoritas. Aqui você encontrará recomendações de livros, reflexões sobre temas importantes e minhas impressões sobre os personagens e enredos que mais me emocionaram. Se você é um amante de livros em busca de novas histórias para se envolver, junte-se a mim nesta jornada literária."

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